Sustos curam soluços?

terça-feira, 15 de março de 2011

Ciência em Portugal #4 - Entrevista a Sofia Pinto

Um dos objectivos iniciais do nosso projecto era divulgar o trabalho de cientistas portugueses no nosso país e no mundo, bem como ter conhecimento das suas experiências profissionais.
A nossa quarta entrevistada é Sofia Pinto, investigadora portuguesa na área de biomédica, actualmente sediada na Croácia.



1.Em que universidade estudou?

Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciências e Tecnologia.


2.Nível de habilitações:

Licenciatura em Engenharia Biomédica.


3.Acha que o curso que seguiu correspondeu às suas expectativas?

Para ser sincera, não tinha criado expectativas. Em parte devido ao facto de que, no ano em que entrei, o curso de Engenharia Biomédica estava a ser leccionado pela primeira vez e, por isso, não havia ninguém para me dizer o que me esperava. Mas no decorrer do curso fiquei de certo modo desiludida na medida em que, sendo um curso novo, nem tudo estava bem pensado e estruturado e, portanto, foi caótico!


4.Deparou-se com alguma dificuldade quando o acabou?

As dificuldades com que me deparei surgiram durante a procura de trabalho que não foi, nem é, uma tarefa fácil: muitos emails enviados e poucos recebidos de volta com algum género de resposta!


5.Em que projectos/programas no estrangeiro participou aquando ou depois de concluir o seu curso?

Durante o 4º ano do curso, estive em Itália ao abrigo do Programa Erasmus. Quando acabei o curso estive num estágio de 3 meses na Croácia no grupo onde estou actualmente a trabalhar.


6.Que razões a levaram a optar por sair do nosso país?

As razões da minha saída são meramente pessoais, em nada relacionadas com a situação das saídas profissionais ou com a ciência em Portugal. Até porque Portugal tem bons centros de ciência, quer nas universidades quer em institutos.

7.Quais as maiores barreiras com que se deparou aquando da mudança?

O começo de uma nova fase! Não é totalmente uma barreira (e viria mesmo que não houvesse mudança de país) mas é aquele ponto de interrogação que me deixa insegura! Depois o deixar a família e amigos, ou melhor, o saber que não iria estar com eles tão frequentemente como gostaria! E por fim, o ir para um país do qual pouco ou nada sabia...é ao mesmo tempo uma aventura e uma incerteza!


8.Quais os aspectos mais positivos e quais os negativos de toda uma experiência de viver longe do seu país, família e amigos?

Não tenho muitos aspectos negativos a apontar, só mesmo o facto de não poder ir a casa mais frequentemente e de na Croácia não haver bom bacalhau! Quanto aos aspectos positivos: conhecer as pessoas, os hábitos e as histórias de um país a recuperar duma guerra que lhe deu independência num passado actual, há cerca de 10 anos.


9.Acha que o nosso país apoia suficientemente os jovens cientistas?

Definitivamente que sim. Em Portugal existem bastantes bolsas de investigação para apoio aos jovens portugueses que querem seguir uma carreira científica (em Portugal ou no estrangeiro) e existem também vários prémios de distinção para o trabalho desenvolvido por jovens cientistas.


10.Pela sua experiência pessoal, relativamente a si e aos seus colegas de curso e colegas de profissão, acha que em Portugal é acessível e breve conseguir um emprego na sua área?

Em 2007, ano em que acabei o curso, muitos dos meus colegas estiveram meses à espera de arranjar trabalho e poucos foram aqueles que tiveram a sorte de encontrar um emprego na área da biomédica. Quem optou por ficar pela universidade a tirar o doutoramento ou como bolseiro de investigação em projectos científicos não teve problemas de maior. No entanto, a Engenharia Biomédica tem a vantagem de ser um curso de engenharia, o que abre possibilidades de trabalho noutras áreas. Actualmente, e infelizmente, o panorama não é muito diferente.


11.Enquanto alunos que somos, temos escolhas e decisões para fazer acerca do nosso futuro. Que opinião e conselhos nos pode dar quanto a seguir uma área das ciências ou enveredar pelo mesmo curso que escolheu?

Na ciência há uma imensidão de áreas! Limitem as escolhas àquelas áreas que realmente vos chamam à atenção e despertam interesse. Informem-se e falem com pessoas que estão nos cursos ou que estão já a trabalhar nas áreas que vocês têm em vista para tentarem ter uma noção do que realmente se faz nessa área, porque por vezes as ideias que temos são erradas. Escolham o que VOCÊS gostam, não o que os outros gostam ou acham que é melhor, e arrisquem! Será a escolha acertada? Por vezes é, por vezes não é!


12.Tenciona voltar para Portugal em breve ou, num futuro próximo, não tem planos para isso?

Em breve quero acabar o doutoramento; num futuro próximo gostaria de voltar a Portugal; e de resto não tenho planos!


13. Sente-se realizada profissionalmente?

Não a 100%, falta qualquer coisa! O facto de não me sentir realizada profissionalmente não significa que não goste da ciência, pelo contrário, acho que é uma área bastante atractiva! No entanto, sinto que não é o que quero fazer para o resto da vida e vejo este facto, não como algo negativo, mas sim como um ponto construtivo! Precisamos de experimentar, de entrar no mundo da nossa escolha para saber se é aquilo que realmente gostamos e queremos fazer!

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